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Texto: doce eleição

Doce eleição

Quando eu tinha 15 anos eu era uma criatura boçal. Na verdade, tenho saudade de ser daquele jeito pois meu espírito ficaria muito mais contente comigo. Digo, quando eu tinha aquela idade, meus problemas eram só meus, sendo um bando de ideias individualistas e pintadas pelo senso comum chamado: “ah, ouvi dizer”. O “ah, ouvi dizer” era uma resposta tão doce para mim naquela época… porque eu não precisava dar mais nenhum argumento. Então eu falava essa vergonha de resposta e fazia uma expressão facial de sabichona, orgulhosa por não ter nada de eficiente para colocar na conversa.

Com 15 anos, eu acreditava que a minha intuição era uma heroína, sempre certa e absoluta. Não pesquisava, não debatia, não questionava. Só via um caminho mais fácil de ser explicado para eu, novamente, sair como a sabichona. A verdade era que eu não passava de uma garota boçalmente ignorante. Peço perdão hoje aos meus pais por ter manchado meu sobrenome falando asneiras sem sentido e acreditando que estava com a razão.

Naquela época, eu não gostava de política. Na verdade, a eu de hoje continua odiando política, só que de uma forma diferente. Com 15, achava que era um assunto chato; com 19, acho que é um assunto tóxico. Nos períodos de eleição daquele passado — de minha total abstinência de noção — as pessoas agiam como loucas. Loucas. Brigavam pelas redes sociais e discutiam em reuniões… hoje, nada mudou. Ou melhor, nada mudou em relação à reação do povo, mas sim na questão de meu pensamento sobre o momento. E eu posso dizer e afirmar e relatar sem nenhum tipo de hesitação: os brasileiros não têm empatia e nem a vontade de argumentar. São um bando de dominós, que quando caem, caem juntos devido à homogeneidade de ideias. Devido à falta de argumento.

Não me excluo dessa massa. Óbvio que não. Eu sou humana, e humanos erram. Porém, posso me dar o luxo de dizer que sou tolerante em relação às opiniões dos outros, obrigada. Por outro lado, também me vejo no direito de expressar a minha opinião e falar o que penso. E hoje — como fico feliz em dizer isso — tenho argumento. Tenho tantos argumentos! Eu não os inventei! Eu pesquisei, analisei e discuti com outros indivíduos. Óbvio que não posso dizer que as minhas opiniões são verdades absolutas, porque estas não existem. Mas são verdades, posso garantir.

Então volto a afirmar, com toda a força de vontade: o brasileiro perdeu a empatia, e conserva o senso comum. Não que este seja um monstro demoníaco, mas um lado dele, dependendo da situação, pode ser vergonhoso. E eu posso dizer: passar vergonha não é nada elegante. É como se o brasileiro (eu também, não sou perfeita) pegasse a ignorância nos braços e a ninasse feito uma criança; enquanto ela sorri, nós fazemos caretas para ela gargalhar. É engraçado, porque a ignorância só gargalha por nos ver ser ridículos.

E ela está assim no período de eleições. Ela e o ódio fizeram uma parceria perfeita, e enquanto nós, brasileiros, nos odiamos e nos ofendemos, os dois entrelaçam os dedos e observam tudo como dois amantes olhando para quem é traído. Chega a ser humilhante dar tal prazer aos dois cretinos.

Entrando em lados polêmicos, como posso me dar o luxo de expressar a minha opinião, tenho a dizer que nossos candidatos são humanos. Não lendas. São pessoas. Não deuses. São mulheres e homens. Não salvadores da pátria. Então, pelos céus, que tal pararmos de agir como soldados em guerra sedentos para ver quem fala mais alto? Óbvio que devemos pôr a fé em alguém, mas não vamos deixar o nosso nome ser levado e colocado nas mãos de humanos. Pois como eu disse lá em cima, humanos erram. E como erram.

A questão precisa ser analisada de uma outra forma. Enquanto nós brigamos e nos xingamos, quem deveria ser o “salvador da pátria” só vai enriquecendo. Eles manipulam e prometem, com discursos cada vez mais persuasivos, que nem foram montados por eles realmente, e sim por um time de assessoria com boa escrita. Então, diga-me, vale à pena brigar pela imagem de um humano rico que tem o discurso montado? E não, não culpo apenas os salvadores da pátria, pois eu mesma já prometi muitas coisas e nunca as cumpri. Assim como já me prometeram tantas outras, e também não as cumpriram. É o ciclo. É a essência do humano. E humanos erram.

Não vamos ser hipócritas.

Bom, vocês devem estar pensando que eu sou uma propagadora do caos e contra a estrutura política deste nosso Brasil. Pois bem, afirmo que se você pensou nisso, está errado. Acho a ideia de política um tanto sedutora e confortante, principalmente aquelas que tem no âmago o fator democrático; são lindas e adoráveis. O problema está nesta questão: a estrutura não é respeitada. A estrutura é arrumada e saudável, mas quem a administra chega no escritório e a bagunça, a torna doente.

O que digo é simples demais, visível demais. Não adianta colocar a mão no fogo por quem nem mesmo o daria a mão para o ajudar a se levantar. O que temos que fazer é admitir que somos meros humanos com fraquezas, para em seguida, evoluirmos juntos. Unidos. Fortes. O que temos que fazer é deixar a nossa essência “ah, ouvi dizer”, e pesquisar. Analisar. Sermos chatos e curiosos. Temos que cutucar os problemas até os tornar furiosos a ponto de ir embora da festa.

Esta eleição, para mim, está sendo um caos. As pessoas perderam a empatia, deram abrigo à violência e intolerância. Não respeitam as opiniões contrárias e simplesmente querem as calar. Que falta de respeito! É tão deselegante…

Eu mesma já discuti com algumas pessoas por uma rede pessoal sobre um certo candidato. Arrependo-me amargamente, pois aquela discussão nos transformou em duas criaturas burras e ignorantes. Eu me admiti burra e ignorante. Se ele continua pensando em ter estado correto, aí ele continua burro e ignorante, obrigada. A minha parte eu fiz, não posso forçar alguém a se admitir errado. Tenho mais o que fazer na minha vida.

Votar em um X no domingo vai ser como escolher uma forma menos dolorosa de morrer. Posso escolher a forca ou a faca. Nesta, o Matador cortaria primeiramente os meus dedos da mão, depois os dos pés e em seguida a minha língua. Eu não estaria morta ainda. Ele só me mataria, ao enfiar um punhal em meu coração, depois de meu sangue pingar no chão por meio de diversas partes do meu corpo. Prefiro a forca. De qualquer forma irei morrer, mas não quero sofrer.

Se você não entendeu as minhas metáforas acima, quero deixar bem claro que não quero morrer, ok? (Algumas pessoas precisam de explicações mais complexas). Foi só um exemplo. Cruzes, tenho muito a viver ainda!

Voltando… não irei falar de candidatos porque não vale à pena. Como disse acima, escolherei a forma de morrer menos dolorosa. Mas deixo uma dica para vocês, uma dica que guardo comigo: não seja a eu de 15 anos. Não diga “ah, ouvi falar” para justificar sua escolha. Seja chato, pesquise, seja exigente!

E outro ponto: se você não acredita em notícias dos jornais, entrevistas, vídeos gravados e explicitamente audíveis, deixe de acreditar em tudo. Se quer ser cético, seja cético em relação a tudo. Seja cético em relação à sua própria pessoa. Seja cético em relação à necessidade de tomar água todos os dias, ou de que existe um Sol e uma Lua. E também não leve em consideração os números do IBGE. Ou de pesquisas acadêmicas que demoraram anos para serem concluídas.

Seja cético, mas compre seu ideal.  Quer ser cético? Tudo bem. Faça direito.

Ps: cuidado para não estar dando comida para uma pequena ignorância. Ela pode crescer e tomar conta de você.

Por outro lado, também saiba que existem leões vestidos em pele de cordeiro. Mas eu, como uma moça em sã consciência, prefiro selecionar o cordeiro, e não o leão. Não quero ser devorada de uma vez só. O tempo me dirá se fui tola ou não. O meu cordeiro poderia começar a tirar seu agasalho e se mostrar um leão. Eu ficaria obviamente arrasada, mas eu teria tempo para o tornar infeliz.

                                                                                                               Daniela Esperandio Dias

Eu como cidadã:

Não tenho candidato, mas me recuso em escolher como representante do meu país uma pessoa que acredita na violência. Não quero trazer os anos 40 de volta porque, como dizem pesquisas (que eu acredito) e os próprios viventes da época, muitas pessoas morreram de forma brutal em uma barbárie suja e moldada pelo preconceito e intolerância. Além disso, não quero como meu representante alguém que não acredita na desigualdade – em todos os sentidos. Os números estão aí para mostrar. Uma pena que pessoas os ignoram completamente.

Os outros podem até ser leões em pele de cordeiro, mas não sou louca de escolher um leão primeiro. Eu estaria assinando a minha morte. E se os outros também forem leões, ah, eles ficarão mansos com a nossa voz que se unirá aos poucos. Eu espero.

Porque juntos somos melhores.

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